Sayyiduna Abu Zar Ghiffári (Radiyalláhu An’hu) era um dos Sahábi (companheiros) muito conhecido pela sua piedade e sabedoria. Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu) costumava dizer: “Abu Zar possui aquele conhecimento que os outros não são capazes de adquirir.”
Quando soube do Nubuwwah (profecia) de Raçulullah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam), ele enviou o seu irmão a Makkah Mukarramah, a fim de investigar aquele que dissera ser “O recebedor da Mensagem Divina.”
Depois das necessárias averiguações, o seu irmão voltou e informou-o do seu encontro com Muhammad (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) e contou que se tratava de um homem de bom carácter e uma excelente conduta e que as suas maravilhosas revelações não eram nem poesias nem adivinhações. Mas estas informações não o satisfizeram, e decidiu, então, partir para Makkah Mukarramah e averiguar os factos pessoalmente. Ao chegar a Makkah, dirigiu-se imediatamente ao Haram. Ele não conhecia o Profeta (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) e nem achou ser altura propícia para perguntar a alguém a seu respeito (devido às circunstâncias daquela altura).
Ao anoitecer, Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu) reparou nele e viu que se tratava de um estranho, por isso, não podia ignorá-lo, pois a hospitalidade cuidadosa com os viajantes, pobres, doentes e estranhos era a segunda natureza dos Sahábah (companheiros). Por conseguinte, ele levou-o à sua casa. Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu) não lhe perguntou sobre o propósito da sua visita a Makkah Mukarramah e nem mesmo Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) lhe revelou.
No dia seguinte, dirigiu-se novamente a Haram e permaneceu lá até à noite, sem ficar a saber quem era o Profeta (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam). De facto, todos sabiam que o Profeta (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) e os seus companheiros eram perseguidos em Makkah Mukarramah e Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) podia ter dúvidas sobre o resultado da sua investigação a respeito do Profeta de Allah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam). Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu) levou-o novamente à sua casa para lá pernoitar, mas novamente não se pronunciou sobre o propósito da visita do seu convidado. Contudo, na terceira noite, depois de Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu) o ter entretido como nas duas noites anteriores, perguntou: “Irmão, o que o trás a esta cidade?”
Antes de responder, Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) comprometeu Ali (Radiyalláhu An’hu) para que este contasse a verdade e depois perguntou a respeito de Muhammad (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam). Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu) respondeu: “Ele, na realidade, é o Profeta de Allah. Tu acompanhas-me amanhã e assim apresentar-te-ei a ele. Mas terás que ter muito cuidado, para que as pessoas não venham a saber da tua associação comigo porque tal poderá causar sarilhos. Para evitar problemas, ficarei à parte, fingindo ter alguma necessidade ou ajeitando os meus sapatos, e tu continuas a caminhar sem parar, para que assim as pessoas não percebam a nossa ligação.”
No dia seguinte, Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) seguiu Sayyiduna Ali (Radiyalláhu An’hu), que o levou até Raçulullah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam). Logo no primeiro encontro, ele abraçou o Isslám.
O Profeta de Allah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) receando que o Quraish talvez o magoasse, obrigou-o a não fazer uma declaração aberta ao Isslám e ordenou para que regressasse para o seu clã e voltasse quando os muçulmanos tivessem ganho a superioridade. Sayyiduna Abu Zar (Radiyalláhu Anhu) respondeu: “Ó Profeta de Allah! Juro por aquele que é o Senhor da minha alma, terei que ir recitar o Kalimah no meio daqueles descrentes.” Sendo verdadeira a sua palavra, ele dirigiu-se imediatamente para o Haram e, no meio de uma multidão e em voz alta, ele recitou o Kalimah Shahadah:
أَشْهَدُ أَنْ لَّا إِلٰهَ إِلَّا اللهُ وَأَشْهَدُ أَنَّ مُحَمَّدًا رَّسُوْلُ اللهْ
“Testemunho que não há nenhum ser digno de adoração excepto Allah e testemunho que Muhammad (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) é Seu Servo e Mensageiro.”
As pessoas caíram sobre ele de todos os lados e tê-lo-iam espancado até à morte se Abbás (tio do Profeta (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) que naquela altura ainda não havia aceite o Isslám) não o socorresse e salvasse. Abbás disse à multidão: “Vocês sabem quem ele é? Ele pertence ao clã de Ghiffar, que vive na direção do caminho das nossas caravanas para a Síria. Se este for morto, eles armarão ciladas contra nós e não poderemos negociar com aquele País.” Isto apelou à prudência deles e eles abandonaram-no.
No dia seguinte, Sayyiduna Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) repetiu a sua arriscada confissão de Fé e certamente que seria espancado até à morte pela multidão se Abbás não interviesse mais uma vez, salvando-o pela segunda vez.
A acção de Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) era devido ao seu extraordinário zelo pela proclamação do Kalimah entre os descrentes, e a proibição de Raçulullah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) era devido à bondade que tinha por Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) no seu íntimo, para que ele não viesse a sofrer dificuldades que pudessem ser demasiadas para ele.
Não existe nenhuma sombra de desobediência neste episódio. Como o próprio Profeta de Allah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) encontrava-se a suportar imensas dificuldades na propagação da Mensagem de Allah, então, Abu Zar (Radiyalláhu An’hu) pensou que era altura apropriada para seguir o seu exemplo, em vez de aproveitar-se da permissão (de não propagar por agora) para se livrar dos perigos (isto é, ele pensou que, em vez de salvar-se a si próprio com o argumento de o Profeta permitir, quis seguir o exemplo do próprio Profeta de Allah (Sallalláhu Alaihi Wa Sallam) na propagação do Isslám). Foi este espírito que levou os Sahábah (companheiros) ao auge do progresso material e espiritual. Qualquer pessoa que recitasse o Kalimah e abraçasse o Isslám, aí nenhum poder da terra o demovia e nenhuma opressão ou tirania o impedia de divulgar a Mensagem de Allah Ta’ala.
(Fazáil Am’ál em Português / Pg. 25 – 27)