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Tafssír do Surah Qáfirun

بِسْمِ اللّٰهِ الرَّحْمٰنِ الرَّحِيْمِ

قُلْ يٰاَيُّهَا الْكٰفِرُونَ ‎﴿١﴾‏ لَا أَعْبُدُ مَا تَعْبُدُونَ ‎﴿٢﴾‏ وَلَا أَنتُمْ عٰبِدُونَ مَا أَعْبُدُ ‎﴿٣﴾‏ وَلَا أَنَا عَابِدٌ مَّا عَبَدتُّمْ ‎﴿٤﴾‏ وَلَا أَنتُمْ عٰبِدُونَ مَا أَعْبُدُ ‎﴿٥﴾‏ لَكُمْ دِينُكُمْ وَلِيَ دِينِ ‎﴿٦﴾‏

Diz: “Ó descrentes! Não adoro aquilo (ídolos) que adorais, nem vós adorais Aquele a quem eu adoro (Allah Ta’ala). E nem eu irei adorar aquilo (ídolos) que adorais, e nem vós ireis adorar Aquele a quem eu adoro (Allah Ta’ala). Tendes a vossa religião e tenho a minha religião.”

Os dois surates, Surah Káfirun e Surah Ikhláss, possuem grande importância e virtude. Hazrat Nabi (sallallahu alaihi wassallam) costumava recitar estes dois surates nos sunnates do saláh de Fajr e Maghrib. Ele também aconselhou que o Surah Káfirun deveria ser recitado todas as noites antes de dormir, pois é uma declaração de dissociação de shirk e descrença.

Numa ocasião, Hazrat Nabi (sallallahu alaihi wassallam) foi picado por um escorpião. Ele recitou o Surah Káfirun, juntamente com o Surah Falaq e o Surah Náss, e com isso aplicou água salgada na área onde foi picado. Através do barakah desses surates, foi concedido shifá.

A razão da revelação deste surah, conforme relatado por Hazrat ibn Abbáss (radhiyallahu an’huma), é que certa vez um grupo de Quraixitas veio a Nabi (sallallahu alaihi wassallam) e propôs o seguinte a ele. Eles disseram: “Nós lhe daremos tanta riqueza que você se tornará o homem mais rico em Makkah Mukarramah, nós lhe daremos qualquer mulher que você desejar em casamento e nós lhe seguiremos e obedeceremos como nosso líder indiscutível – com a condição de que você não fale mal dos nossos deuses (ídolos). Se você não concorda com isso, então vamos chegar a um acordo que você adore os nossos deuses por um ano, e nós adoraremos seu Allah no ano a seguir.”

Após isto, Hazrat Jibríl (alaihis salám) desceu com o Surah Káfirun.

De acordo com algumas narrativas, é mencionado que alguns dos idólatras de Makkah Mukarramah pediram a Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) que se comprometesse a adorar os seus deuses. No entanto, Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) recusou. Em seguida, eles disseram: “Ó Muhammad (sallallahu alaihi wassallam), se você não deseja adorar os nossos deuses, pelo menos toque em alguns dos nossos deuses. Se você os tocar, acreditaremos em ti.” Foi então que este surah foi revelado.

Em resumo, os kuffár fizeram três propostas a Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam).

A primeira proposta era que Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) não deveria falar contra os ídolos deles.

Se ele não estivesse preparado para isso, então a segunda proposta era que ele concordasse em juntar a sua adoração com a adoração deles e seu díne com o díne deles, de forma que ele iria adorar os deuses deles por um ano e eles iriam  adorar Allah Ta’ala por um ano.

A terceira proposta que eles fizeram foi que Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) deveria pelo menos tocar os ídolos deles para mostrar algum tipo de reverência e respeito a eles. No entanto, Allah Ta’ala revelou este surah para proibir Raçulullah (sallallahu alaihi wasallam) de aceitar qualquer uma das propostas deles.

A declaração aberta deste Surah

Este surah é uma declaração aberta de que o Islám não pode ser unido ou misturado com a religião dos kuffár. Neste surah, Allah Ta’ala condena abertamente as acções dos kuffár e ordena aos muçulmanos que adorem Allah Ta’ala sozinho de uma maneira que não haja shirk ou adulteração com qualquer tipo de kufr.

A razão para Allah Ta’ala proibir Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) e ao Ummah de aceitar as propostas dos kuffár é que o Díne Islám é um Díne puro, perfeito, abrangente e completo baseado nos princípios do tawhid (unicidade de Allah Ta’ala) e obediência apenas às ordens de Allah Ta’ala.

Portanto, este Díne nunca pode ser unido a nenhuma outra religião, pois todas as outras religiões além do Islám são baseadas em kufr e shirk, enquanto que o Díne Islám é baseado na pureza, tawhid (a unidade de Allah Ta’ala) e obediência completa a Allah Ta’ala.

 

قُلْ يٰاَيُّهَا الْكٰفِرُونَ ‎﴿١﴾‏ لَا أَعْبُدُ مَا تَعْبُدُونَ ‎﴿٢﴾‏ وَلَا أَنتُمْ عٰبِدُونَ مَا أَعْبُدُ ‎﴿٣﴾‏ وَلَا أَنَا عَابِدٌ مَّا عَبَدتُّمْ ‎﴿٤﴾‏ وَلَا أَنتُمْ عٰبِدُونَ مَا أَعْبُدُ ‎﴿٥﴾‏ لَكُمْ دِينُكُمْ وَلِيَ دِينِ ‎﴿٦﴾‏

Diz: “Ó descrentes! Não adoro aquilo (ídolos) que adorais, nem vós adorais Aquele a quem eu adoro (Allah Ta’ala). E nem eu irei adorar aquilo (ídolos) que adorais, e nem vós ireis adorar Aquele a quem eu adoro (Allah Ta’ala). Tendes a vossa religião e tenho a minha religião.”

Ao examinar esses versículos, aparentemente parece que foram repetidos. No entanto, há uma diferença entre os dois primeiros versículos em comparação com os dois segundos.

Os dois primeiros versículos referem-se ao presente e os dois últimos versículos referem-se ao futuro, ou seja, no presente, não vamos adorar o que vocês adoram e nem no futuro adoraremos o que vocês adoram. Portanto, não espere que vos sigamos no que vocês adoram a qualquer momento. De acordo com esta explicação, a palavra árabe “má” em todos os quatro versículos é traduzido como “má maussúla”, ou seja, o objecto de adoração – nós adoramos Allah Ta’ala e vocês adoram os vossos ídolos.

A segunda explicação desses versículos que é dada por Allámah Ibn Kassír (rahimahullah), é que o “má” nos primeiros dois versículos será traduzido como “má maussúla, e o “má” nos segundos dois versículos é traduzido como “má masdariyya”. Consequentemente, esses versículos serão traduzidos como “Eu não adoro aquilo (ídolos) que vocês adoram, nem vocês adoram Aquele a quem eu adoro (Allah Ta’ala). E nem eu adoro forma como vocês adoram e nem vocês adoram da forma como eu adoro.”

Em outras palavras, de acordo com essa explicação, os dois primeiros versículos mostram que o objecto da nossa adoração e a vossa adoração são diferentes. Nós adoramos Allah Ta’ala e vocês adoram as vossas divindades. Os dois versículos seguintes mostram que somos diferentes na maneira da nossa adoração, ou seja, as nossas formas de adoração são totalmente diferentes e contrárias uma da outra. Enquanto vocês desejam permanecer no vosso caminho de falsidade, então vocês não devem esperar que eu me afaste do caminho de haq e me conforme com as vossas formas erradas de adoração, e nem espero que vocês se conformem com as minhas formas de adoração. Não há reconciliação entre os nossos modos de adoração, pois ambos são totalmente diferentes um do outro.

Em essência, esses versículos implicam que o caminho do Islám é um caminho de pureza e rectidão, o caminho de acreditar e adorar somente a Allah Ta’ala, obedecer e se submeter ao que Ele diz sem qualquer forma de desvio. Pelo contrário, o caminho de shirk e kufr se opõe completamente ao caminho do Islám, pois exige aceitar tudo para além de Allah Ta’ala. Portanto, um muçulmano e um não-muçulmano estão em caminhos diferentes em todos os aspectos e um muçulmano nunca pode seguir aos não-muçulmanos em seus actos de adoração, costumes, rituais, modas, celebrações, tendências de negócios e estilos de vida.

Este surah transmite a essência do Tawhid e submissão apenas as ordens de Allah Ta’ala e a importância de um crente mostrar submissão e lealdade inquestionáveis ​​em todas as esferas da sua vida mundana e religiosa. Um crente não é como um descrente que se move com o tempo e muda com a ocasião. Pelo contrário, em todas as condições e situações, um crente permanece fiél a Allah Ta’ala. Não importa a época do ano e o ambiente a que esteja exposto, se está na sua cidade onde reside ou de férias, seja na sua vida doméstica, social ou nos seus negócios – ele permanece firme no Díne a todos os momentos por ele estar consciente que ele terá que responder pelas suas acções perante Allah Ta’ala.

Ele não é influenciado pelos costumes e tradições dos kuffár em nenhum momento, mas irradia os verdadeiros valores do Islám onde quer que vá e com quem quer que se encontre. Foi essa a qualidade e condição nos Sahábah que os levou a ter sucesso onde quer que fossem no mundo e fez com que os corações das pessoas fossem atraídos para o Islám apenas ao conhecê-los.

 لَكُمْ دِينُكُمْ وَلِيَ دِينِ ‎﴿٦﴾

Tendes a vossa religião e tenho a minha religião.

A palavra Díne pode ser traduzido de diferentes formas. Uma tradução de Díne é religião – conforme preferido pelo Imám Bukhári (rahimahullah). Consequentemente, a tradução do versículo será: “Tendes a vossa religião e tenho a minha religião.

Outra tradução de Díen é “caminho.” Portanto, a tradução do versículo será: “Tendes o vosso caminho e tenho o meu caminho.”

Em outras palavras, vós tereis que sofrer as consequências de vossas acções e eu desfrutarei do resultado das minhas acções.

Fazer amizade com os Kuffár

Uma lição importante que aprendemos desta surah é que um crente não deve comprometer nenhum dos seus princípios do Díne para agradar aos descrentes. É por esta razão que em muitos versículos do Qur’án Majíd, Allah Ta’ala nos proibiu de fazer amizade com os kuffár.

Allah Ta’ala afirma no Qur’án Majíd:

يَا أَيُّهَا الَّذِيْنَ آمَنُوْا لَا تَتَّخِذُوْا الْكٰفِرِينَ أَوْلِيَاءَ مِنْ دُوْنِ الْمُؤْمِنِيْنَ أَتُرِيْدُوْنَ أَنْ تَجْعَلُوْا للهِ عَلَيْكُمْ سُلْطَانًا مُّبِيْنًا

Ó crentes! Não tomeis os descrentes como amigos em vez dos crentes! (Sura Nisá v. 144)

Num outro versículo, Allah Ta’ala diz:

يَا أَيُّهَا الَّذِيْنَ آمَنُوا لَا تَتَّخِذُوْا الْيَهُوْدَ وَالنَّصٰرٰى أَوْلِيَاءَ بَعْضُهُمْ أَوْلِيَاءُ بَعْضٍ وَمَنْ يَتَوَلَّهُم مِّنكُمْ فَإِنَّهُ مِنْهُمْ إِنَّ اللهَ لَا يَهْدِيْ الْقَوْمَ الظّٰلِمِينَ

Ó crentes! Não tomeis os judeus e cristãos como amigos! Eles são amigos um do outro. E quem vós os tomar como amigos, então ele será um deles. Certamente, Allah Ta’ala não guia as pessoas injustas para o caminho certo. (Sura Má’idah v. 51)

A partir destes dois versículos, ficamos a saber que tomar os kuffár como amigos foi fortemente desencorajado no Islám. Da mesma forma, no Hadice Mubárak, Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) ordenou estritamente que os crentes deveriam se associar apenas com os crentes.

Raçulullah (sallallahu alaihi wassallam) disse aos Sahábah:

لا تصاحب إلا مؤمنا

Não tome ninguém como companheiro e amigo além de um mu’min. (Sunan Abu Daud #4832)

A razão do Shari’ah proibir os crentes de fazer amizade com os kuffár é que uma vez que os crentes os tomem como amigos, eles começarão a imitá-los nos seus modos, vestuários, maneira de pensar, cultura e valores.

Isso acabará resultando em negligência ou comprometimento das obrigações que eles devem a Allah Ta’ala e aos outros crentes.

Uma vez que os crentes se sintam inclinados a eles e à sua cultura, eles começarão a viver como eles e a idealizar seus valores e, eventualmente, abandonarão a sua própria cultura e valores islâmicos.

Deve-se ter em mente que, embora sejamos desencorajados a fazer amizade com os kuffár, fomos ordenados a ser gentis e atenciosos com eles. Da mesma forma, temos permissão para interagir com eles nos negócios, etc., com a condição de não nos tornarmos próximos deles e de nossas relações com eles permanecerem dentro dos parâmetros do Shari’ah.

Em essência, não infringiremos os direitos deles, mas, ao mesmo tempo, não seremos influenciados pelos modos e cultura deles e não começaremos a transigir no nosso Díne.

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